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Não somos gado, Dilma Rousseff

Não somos gado, Dilma Rousseff


Não faz muito tempo, um grupo de pastores esteve com a presidente Dilma Rousseff. Ontem foi a vez de um grupo de cantoras evangélicas. Segundo o ministro Gilberto Carvalho, esses encontros têm como propósito estreitar o relacionamento da governante com os movimentos sociais.

Algumas coisas, no entanto, me chamam a atenção. A iniciativa só começou a ser construída após as manifestações com o claro objetivo de tentar reverter a crescente perda de popularidade da presidente por sua falta de sintonia com as aspirações da população. Até então, ela se mantinha fechada em copas, aliás, no Palácio, para esse tipo de aproximação.

Outro ponto a destacar é que cada grupo convidado assume para si a condição de representante do povo evangélico, quando, na verdade, não temos nenhuma voz institucional com procuração para falar em nosso nome. Cada grupo fala, no máximo, representando o próprio grupo. Somos diversificados e as nossas lideranças não são ainda capazes de estar unidas em questões dessa monta.

Realço, ainda, que esses encontros não soam bem aos meus ouvidos por lhes faltar, salvo melhor juízo, o exercício da voz profética. Eles transcorrem, a meu ver, no ritmo da tietagem muito comum em shows de “celebridades”. É foto pra lá, foto pra cá, mas nenhuma comunicação concreta sobre os assuntos discutidos.

É válido orar por todas as autoridades. Aliás, é recomendação bíblica. Mas é no mínimo negligência deixar de aproveitar oportunidades como essas para discutir uma pauta definida que contemple os anseios da população e confronte os erros do governante com suas medidas injustas, opressivas e destruidoras dos valores que sustentam a sociedade. Mas se fosse para ser assim, certamente não seriam convidados. 

É nesse sentido, também, que falo sobre a falta de relevância, incluindo aqui os nossos parlamentares, ressalvadas as devidas exceções. Pensam mais no seu umbigo do que nos interesses da população. Muitos lá estão apenas para fazer “negócios”. É só rastrear um pouco a sua história.

Sobre vida pública, creio que todos nós deveríamos aprender um pouco com Abraham Kuyper, William Wilberforce e, mais recentemente, no Brasil, com Guaracy Silveira. Foram homens que honraram o Evangelho em favor do povo e não com essa triste sina de eleger evangélicos para lutar pelos nossos interesses ou pelos interesses deles mesmos.

Bem, voltemos ao tópico. Precisamos estar com os olhos bem abertos. Esses encontros, da forma como acontecem, nada mais são do que estratégia eleitoral para engabelar os cristãos. É uma tentativa de nos tratar como gado, como se não tivéssemos voz ou fôssemos “maria vai com as outras”. 

Desejo, sim, que a presidente Dilma Rousseff nos ouça, não nos olhando como mero curral eleitoral, mas como voz profética que tem muito a oferecer para a construção de um país mais justo e mais próspero. Fora isso, essas idas ao Palácio não passam de quimeras.

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